sexta-feira, 22 de junho de 2012

Papeando com o carteiro




Outro dia, lá no parque, conheci o seu Marconi. Que figura, olha que prosa, o homem fala rimando, vou dividir com vocês...


O seu Antonio me espera sentadinho no degrau. Tão sozinho, pouco fala, me dá um sorriso amistoso, gosto dele, ele é legal! Depois vem dona Jobelina, aquela que varre o quintal. Arde sempre um comentário com a boca cheia de riso uns safados estes políticos, Lula e Maluf, que que é isto?Onde a gente vai parar? No fundo tem esperança que as coisas vão melhorar.
Para o 303, apenas uma revista, dona Rosa, uma viúva, é boa pra mim, é bacana. Para o 125 tem sempre um maço gordo de contas, que gente cheia da grana! O 67 tem carta de envelope perfumado, só pode ser pro roqueiro de cabelo arrepiado. O 25 tem conta sempre de banco estrangeiro, é o seu Breugurten, o careca, que fala muito engraçado. 
Vou entregando envelopes, caixinhas, coisas pequenas: Lembro o dia que eu passava na Rua do Lava-pés e dei ao seu Eduardo, o envelope vermelho. O homem abriu depressa e quase teve um chilique: tinha sido contemplado com o primeiro lugar no concurso literário para o qual nem quis entrar. A mulher que insistiu, me contou com alegria, agora ia viajar, podia rever a filha.
Gosto da gata do Nelson, no 486, que toma sol na floreira. Sempre faz uma firula, deve ser namoradeira. Bato papo com seu Ângelo, o que adora futebol. Toma conta da netinha pra filha ir trabalhar. O Corinthians ganhou ontem, mesmo só tendo empatado. Vai Colintias diz Laurinha, só dois anos, conquistada!
Os cachorros do 1005, aqueles de cara amassada, que estão sempre dormindo, abrem uns olhos ladinos quando me escutam chegar, botam a pata na cara, continuam a descansar. 
Os do 530 gostam de me lamber, eu deixo, claro que eu deixo, que mal isto há de fazer? O do 1647 é feio e mal-humorado, se chama Miséria, o coitado. Senta, Miséria! Entra, Miséria! Passa, Miséria!!
Mas triste foi o que veio da nora do seu José, um telegrama curtinho, duas únicas palavras, Anita morreu. O velho caiu num choro, eu tive de lhe ajudar, levar pra dentro, dar água, precisei lhe acalmar: era a irmã com quem ele há anos tinha brigado, nunca mais tinham falado, foi por causa de ciúme, ciumeira, coisa boba. Que estúpido! dizia ele, que besteira a gente faz, agora ela foi embora, nunca mais vou lhe abraçar! Seu Marconi, se eu pudesse, ah...

4 comentários:

  1. Cara Uxa,
    Boa tarde!
    Sua carta chegou no mesmo dia.
    Eu a li. Fechei-me no envelope.
    Só hoje é que me abri. Li de novo.
    Histórias soltas. Selaram meu coração na cidade.
    Posso andar por aí.
    A cidade está cheinha de gente vivendo.
    Posso viver também.
    É garantia selada.
    Obrigada a Uxa e sua escrita amorosa.
    Abraços paulistanos,
    Cibele

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  2. Parece o carteiro da minha rua
    bjs
    Madú

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  3. muito bom! lembrei dos sonetos da tia Maristella. bjsa Ruth

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