A tarde chega como cão sem dono.
Alfredo segura Amélia pela mão até que ela alcance o andador. É o carinho máximo a que ainda se permitem. Para eles não há mais futuro.
Como um carretel de linha o amor de Alfredo e Amélia foi se desenrolando ao longo dos anos até deixar à vista apenas o canudo cinza de papelão duro.
Amélia levanta os olhos almejando passar através dele a gratidão que lhe toma o peito. Perde o equilíbrio. Ações simultâneas já não lhe são mais possíveis. Como quem carrega uma rocha, Alfredo tenta levantar a mulher. Cai também, esburrachado, no chão. Ali ficam como se fossem tapete; serão pisoteados pelos cachorros. A esperança é que os bichos latam a ponto de o vizinho estranhar a barulheira. Que chame o zelador.
Como um cometa riscando o céu, quem surge do nada é o neto. Escancara a maior das gargalhadas ao ver a cena e se atira, ele também, sobre os avós. Os três riem às lágrimas e resignam-se a esperar sentados até que a filha, ao vir em busca do menino, os erga dali. Ela não tarda.
Ao ver os três amontoados no chão, sua voz soa dura como gelo, não vê graça alguma na cena. Ao contrário, vai-lhe subindo a raiva como fogo incendiando mato. Lição aprendida, absorve a ideia de que o filho não poderá mais ficar com os pais. Estes nunca mais serão como os cavalos soltos nas rédeas que ela havia conhecido e amado.
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lindo, mas meu olhar matinal de poliana teria pedido um outro fim. que tal se a filha também brincar de embola, embola? hahaha
ResponderExcluirbrincadeira. amei
tica
Estás cada vez melhor.
ResponderExcluirUm beijo