- Looping só quer dizer um movimento que se repete em círculos e não tem saída - ele explica.
- Então é looping - ela conclui - É assim que está a nossa vida.
Ele vira o rosto para a janela fechada, senta na cama. Natália abre o armário, pega a mala. Lenta, os movimentos desencontrados, não quer ir, quer que ele peça que fique, que diga que a ama, que sente sua falta. Seus pensamentos ecoam em tal volume que ele se aproxima.
Voltam pra cama, abraçados.
Os poucos passos que cobrem essa mínima distância levam anos; é lícito querer que ele seja alguém que ele não é? E se fosse o oposto?
Cansada do real, ela quer fantasia para se entregar ao espaço de Eros.
Aí é que está o problema. Não é espaço, é tempo de Eros. Mas eles não sabem.
Ela pede que ele imagine uma cena. Nestor faz qualquer coisa por ela. Começa uma descrição vagarosa, procura imagens, palavras, um lugar nas montanhas, perto de um lago bonito, um clima ameno, fim de tarde ainda com sol, nem frio, nem calor, os dois sentados numa mesa, um grupo de amigos, jazz tocando. Ela se impacienta: Onde é que está o sexo nessa história? Quem vai atrair quem? De que jeito?
Riem. Ele pede para ela imaginar. Ela diz que estão neste lugar mas que não tem lago nenhum, é mar, praia, está calor naquele fim de tarde, todo mundo ainda de maiô, ela se levanta da mesa, tira o shorts, dá um beijo no cangote dele e vai correndo para a água. Ele a segue, corre atrás, toca nela, a empurra de leve, entram no mar. Ele a carrega no colo, o sal tempera seus beijos, vai puxando a mulher pela água até o chalé. Caminham pela areia, rindo, ele apanha uma florzinha no jardim, entram no chalé e vão os dois juntos para a banheira; um minuto depois, ele sai da banheira, põe um CD do Fred Bongusto no aparelho de som - Tu sei cosi - era a única opção na pousada, ela explica, pega uns amendoins, queijo, azeitonas, copos, ajeita tudo no banquinho do banheiro, põe a florzinha num copo enfeitando a mesa improvisada e entra de novo na banheira, olhar moleque. Comem e bebem e se tocam em jogos mais e mais estimulantes; na cama, ela o recebe com ternura, se abre até o fundo. Natália se anima com as próprias imagens.
Começam os jogos do amor na vida real. Ela murmura em pensamentos o que gostaria de ouvir. Ele, devagar e com delicadeza, diz que não é preciso acontecer nada, que não precisa acontecer nada, estar junto já está bom.
Todo seu ser discorda. Ela quer demais se sentir mulher de novo, desmanchar-se de prazer. Ainda desta vez não consegue e começa a se doer de novo. Desistem, abraçados.
O silêncio se impõe e se agiganta. Como onda do mar os engolfa.
Não encontrarão o tempo de Eros enquanto estiverem em busca de espaço.
É como óleo na água.
Querida amiga
ResponderExcluirÉ sempre um prazer e, por que não dizer, um orgulho, acompanhar suas
escrituras, uma fusão entre o real e o imaginário. Elas revelam a
delicadesa, a emotividade e a profundidade de sua alma. Continue enviando.
Beijinhos
Mara
Uxa,
ResponderExcluirsempre um prazer encontra-la!
Segue o endereço do meu blog: www.barbargastronomia.worpress.com
Meu texto está longe de ter a qualidade técnica e o primor que o seu tem. Acho que meus adjetivos não estão no lugar certo e minha escrita ainda precisa de amadurecimento... mas, se não começar a treinar, nunca chegarei lá!
Continue com seus bons textos!
Beijos,
Lucas Corazza
Lindo o Looping! Seu jeito de escrever faz tudo tão humano, tão verdadeiro!
ResponderExcluirbj
Vi