Capítulo 3 – Sábado de aleluia
Mal raiou o sábado de aleluia, a criançada foi correndo até o paiol. Escondidos. Disseram para a avó que iam andar por ali, brincar de esconde-esconde no cafezal. Espiaram de fora, o sol amarelava a pilha de cacau, forçaram um pouquinho a porta que, rangendo, se abriu. Eram dois metros de altura de cacau, o fruto forrava o chão, não tinha espaço vazio. Os meninos entraram primeiro. Era só por o pé na pilha para escorregar e afundar. Ai, que divertido!! As meninas tomaram coragem, o avô era muito resmungão, desmancha-prazeres, que mal podia haver? Levinhas, subiam correndo a montanha de cacau, os frutos passando entre as pernas, precisava de força para alcançar o topo. Sentavam na pilha lá em cima e deslizavam pilha abaixo às gargalhadas. Zeca observou por um momento o jeito delas e fez igual. Nos primeiros passos afundou. Tanto que sumiu. – Cadê o Zequinha? – as meninas berravam. Como cachorrinhos nadando, cavoucaram a pilha de cacau em busca do irmão, quanto mais cavoucavam mais cacau caía sobre o menino que não podia respirar. Ah, entendiam agora os cuidados do avô, e se desesperavam. Pararam de cavar.
–Vamos chamar alguém, assim não vai dar!
- Não! Se a gente deixa ele aqui, até voltar ele já morreu!
Nete encontra a mão de Zequinha lá no fundo da pilha:
-Achei ele! Achei! Segura a minha mão, Cris, e me puxa.
-Isso! Ei, Antonio, segura a minha mão, um segura a mão do outro e a gente vai puxando ele.
Labutaram por uns bons minutos, cada um que puxava ia entrando pilha adentro, foi preciso força e coragem até que o gordinho do Zeca fosse içado lá debaixo da pilha e voltasse à superfície com a cara cheia de palha de cacau, todos os buracos do corpo tapados de cacau, a cara mais desenchabida que havia no mundo. Foi uma discussão calorosa, se contavam ou não contavam e como queriam contar! Mas e o medo?! E a bronca do avô? Devagarinho foram voltando para casa. Entraram pela porta da cozinha, sujos e empoeirados, vó Maria arregalou um olho e tiveram que desembuchar. Ela prometeu não falar nada e eles prometeram se comportar. Trato fechado. Nada de brincar no paiol. Mas foi divertido demais, já tinha valido a pena. No resto do dia brincaram de esconder, de pega-pega, de subir nas árvores e malhar o Judas.
Ufa!!! Que suspense!
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