Glorinha espera pela mãe no portão da escola e parece que o tempo não passa... Depois de olhar para todos os lados, indagar do porteiro, conversar com o último amigo que saía, olhar no celular para ver as horas, ela se senta na calçada e apóia as costas no muro. Coloca no colo a mochila com as preciosidades do dia: o bilhete do Jorge e a revista que a Lu emprestou. Boa idéia, vai ver a revista... lá tem uma reportagem sobre sexo e adolescentes, muito legal, a Lu disse. Antes relê o bilhete do Jorge e alisa bem o papel. Levanta os olhos para ver a amiga ao longe, já dobrando a esquina, de mãos dadas com a mãe. Glorinha nunca fica de mãos dadas com a mãe; sua mãe só liga para os machos dela. Pelo menos é isto que o irmão vive dizendo quando apronta na escola e a mãe vem dar bronca, quem é você pra me criticar, ele diz, você só pensa nos seus machos. A garota não gosta de ouvir isto, não chega a defender a mãe porque também sente muita falta dela, sente falta de alguém que seja como a mãe da Lu, mãe que faz comida, que conversa, que compra pra filha uma roupinha de vez em quando, que sabe onde a filha está. A mãe dela, não; tem sempre uma desculpa. Glorinha já não espera nada, a não ser isto: que ela venha pegá-la na escola, foi o combinado porque o lugar ali é barra pesada, Glorinha avisou que tem medo de ir pra casa sozinha.
A noite começa a se anunciar, os carros já estão de farol aceso, seu Nelson, o porteiro, já fechou a escola, está impaciente para ir embora. Dona Nair, a mulher dele, não pode esperar, foi na frente, tinha aula à noite. Ele decide, vambora, menina, eu levo você, onde você mora? Glorinha se levanta. Sem alternativa, sozinha ali ela é que ela não vai ficar, pede desculpas, fica sem jeito, seu Nelson é muito legal de fazer isto. É na comunidade ali no final da avenida, seu Nelson, não é muito longe.
Ele liga o motor do Fiat 147, em perfeito estado, a menina se acomoda no assento ao lado do motorista, abraçando a mochila e tenta explicar pro seu Nelson que a mãe devia estar muito ocupada. Já quase chegando em casa, uma boa meia hora de trânsito depois, estica o olhar pra dentro do Bar do Caixote e parece que a vê sentada, rindo, tomando cerveja.
Foi assim que Glorinha voltou para a casa da avó. No interior.
Foto da Internet
Nossa! este é (por enquanto) o meu post favorito neste ótimo blog.
ResponderExcluirOs sentimentos, emoções e aspirações da Glorinha foram captados sucintamente, mas com grande perfeição. O Seu Nelson e o seu Fiat 147 comparecem com muita simpatia e solidariedade.
A narrativa é tão fluida que parece cinema.
Um curta estilo Neo-realismo Paulistano sobre personagens da nossa periferia.
Eu lia e via as imagens com a maior facilidade.
A escolha da foto também foi perfeita.
Parabéns!!
E o título também é perfeito!
ResponderExcluirEi; não quero saber de festa amanhã. O dia de postar é sábado, você que se vire!!!!
ResponderExcluirNão somente li e gostei do "pariu" como me inscrevi como sua seguidora. Ganho um smart?
Bom fimde
Marina
Boa festa!Ter uma é sempre bom !
ResponderExcluirRecebendo na 6a o fim de semana fica melhor e mais longo !
Beijinhos
Mara
Uxa, isso aqui está ducaixote!
ResponderExcluirMuito bom o casamento do texto com a imagem fotográfica. Muito.
Bjs da
Regina
Adorei o texto!!! Me senti tão próxima a Glorinha..
ResponderExcluirBjs,
Lue