sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Azul Royal

Foi longa a espera na fila do ônibus que a levaria à José Paulino. Estava frio e úmido, ela tinha de voltar antes da hora do rush. Desceu no ponto próximo à loja de armarinhos e caminhou rapidamente em meio aos passantes carregados de pacotes. Era freguesa de seu Eugênio desde os tempos de mocinha, quando morava perto dali. Depois de mudar, sempre voltava à mesma loja numa nostalgia meio brega. As lãs de seu Eugênio inspiravam-lhe. No fundo era tudo bobagem, lãs podiam ser encontradas em qualquer armarinho mais perto de sua casa. Porém, ninguém conversava como ele. Seu Eugênio tinha sempre um caso para contar e bastava vê-la entrar na loja para que seus olhinhos pretos começassem a brilhar. Desta vez, enquanto ele lhe mostrava as lãs, as novidades, contou a história da moça que recebeu a visita de um anjo. Ah, como ela também adoraria receber a visita de um anjo. Ela também fala com eles, com seu anjo da guarda, pede proteção quando está sozinha na rua, pede inspiração, pede graça.
- Como assim, seu Eugênio?
- Pois é, minha filha, eles nos visitam, sim. Esta moça, a Juracy, diz que tem uma coisa muito forte com os anjos, conversa com eles como quem conversa com um amigo, sabe, e eles lhe respondem com intuições, com pensamentos.
Foi então que a Tânia resolveu pedir o novelo de lã azul royal. Seu Eugênio começou a abrir a boca e não fechava:
- Não acredito! Você não sabe o que me aconteceu hoje cedo. Apareceu aqui na loja um vendedor de linhas que eu não via há uns seis anos, veio me pedindo que comprasse todo seu estoque, que ia encerrar o negócio, que tinha de mudar pro interior, que a mulher estava doente e coisa e tal. No meio das linhas, agulhas e fitas, ele tinha um único pacote com cinco novelos de lã cashemere. Sabe que cor? Azul Royal! Fazia eras que não me aparecia lã nessa cor, Tânia, será que ele sabia que você vinha hoje? Parece brincadeira! Parece até coisa de anjo.
Tânia, o pacote de lã muito bem guardado na sacola, paga a compra e despede-se de seu Eugênio com um beijo. Cai uma chuva fina, abre o guarda-chuva e sai da loja, cantarolando. Não vê a hora de tricotar seu cachecol de cashemere e se embrulhar no azul de São Miguel.



3 comentários:

  1. Uxa adorei só para saber essa historia é verdadeira?

    Um ótimo final de semana,

    Bjs,

    Wilton

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  2. Todas são, de certa forma...
    bj
    U

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  3. Saudade Uxaaaa!!!

    Sempre bom visitar seu blog... mata um pouquinho da saudade!

    Beijos.

    Jú.

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