sábado, 27 de agosto de 2011

Mães de Daadab

Elas chegam aos milhares
Numa marcha lenta
Arrastando
Horrores

Carregam os corpos cítricos
De suas crianças
Azedas
Murchas dores

Seus passos rastejam
A esperança
Coberta de pó
Esquecida no tempo

Rebento da seca

Os panos coloridos
Cobrem o tormento

Em suas mãos
Uma outra e mais uma
Atadas ao caminhar
Rumo a milhares de nada

Almas curvadas
Imploram pela farinha branca
Que assusta os lábios negros
Sem gosto, sem rosto, só restos

Os seios ralados
Rachados de tanto tentar
Pingam a pele

No chão de terra
Brota um corpo de galhos
Engatinhando uma infância morta

O médico diz que não há nada a fazer.

Em cada corpo
O último a morrer
Grande, vítreo
É o olhar

Eu vejo de longe

O olho opaco
Embora cravado na seca
Ainda produz uma lágrima
Tão transparente quanto a minha.

                    por Maice Rocha Glaser (poeta querida ao alcance de minha mão)

4 comentários:

  1. Oi UXa,que lindo!!!!Quem me dera poder estar mais perto de vc !!!!Bjs
    Kátia

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  2. OI Uxa,
    obrigada e parabéns!
    bjs
    Madú

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  3. Ao alcance de suas mãos...e podendo ver o que elas escrevem. Um presente!
    Beijos,
    Maice

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