sexta-feira, 13 de abril de 2012

Avô e netos


Joel chorou porque não cabia no carro que levou os primos e a tia para a estação.
- Eu também não vou – acalmava-lhe a mãe – logo o vovô está de volta, não chore, Joel, vem, vamos dar comida pros cachorros.  Ele chorava baixinho, as lágrimas escorriam pelo rosto e se misturavam com a poeira.  
Quando o avô voltou da estação, encontrou Joel esperando na porteira. O avô vinha triste com a partida do outro neto, o preferido. Reparou nos cabelos crespos de Joel. Tão compridos, pareciam peruca. 
- Joel, vamos  no barbeiro? Vamos cortar este cabelo?
- Eu?! Nunca fui no barbeiro...
Antenor abriu a porta do carro e o menino entrou. Sentou no banco da frente, quietinho, nem olhou para o avô. O barbeiro ficava na vila ali perto, tiveram de dar meia volta, fazer manobra na estradinha de terra, Joel prestava muita atenção nas mãos do avô mexendo na alavanca do câmbio, nos pés e nos pedais. Não ousava levantar os olhos para olhar o velho, não perguntou sobre os primos que viajaram e nem o homem contou.
A cadeira do barbeiro era alta. Joel ficou afundado no assento, a cara quase batendo na mesinha de apoio sob o espelho. O barbeiro não era homem de cortar cabelo de criança, mas Antenor insistiu, por favor, Toninho, olha o cabelo deste moleque, tá parecendo arame farpado.
- Leva ele no meu filho, Antenor, ele tem um salão na cidade, lá ele corta cabelo de criança e tem uma cadeira que  parece um carro. Tem até televisão.
Ao ouvir isto, Joel lançou um olhar para o avô e puxou a manga da camisa dele com tanto jeito...
O velho agarrou o garotinho e o pôs de volta no carro, desta vez no banco de trás.
-Fica bem quietinho e se segura que agora a gente vai mais longe.
Joel estava encantado. Na cadeira do barbeiro da cidade, sentiu-se um rei sentado naquele carro vermelho. Levantou o queixo, olhou no espelho, deu um sorriso orgulhoso. Seus cachos claros rolavam para o chão; ele via apenas o volante e se imaginava guiando como acabara de ver o avô, mudando as marchas, apertando os pedais, batendo buzina. Quando o barbeiro falou está pronto ele levou um susto.
-Ah, já? Sair do carro?
Tiraram-no de lá e o puseram no chão. Num instante estava, de novo, sentado no banco de trás do carro do avô, as mãos na direção imaginária, a boca fazendo barulho de motor. Antenor percebeu a paixão que se iniciava e parou numa banca de jornal. Comprou um carrinho de brinquedo. Foi o primeiro presente que ele deu a este neto. Chegaram ao sítio. Muito diferentes.


9 comentários:

  1. Ah, minha querida, que delícia navegar nos seus escritos. São sempre tão sensíveis, delicados, instigantes... Às vezes demoro pra vir aqui mas quando chego, ai, quem disse que quero sair? Obrigada por sua delicadeza no jeito de fazer pensar...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Amei...postei no face...

    Bjs Paola

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  5. Cara Uxa,
    Boa noite!
    Êta avô bom de amor.
    Ôoops, neto inesquecível.Muito boa escritora.
    Ilustração linda.
    Grande abraço, parabéns,
    Cibele

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  6. coisas de vô e vó estão p´rá mim... essa história foi uma delícia...
    beijo

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  7. oi, Uxa,

    adorei as mudanças, melhoram muito a condução do texto! :)

    beijalhões da
    Lela!

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  8. Simples e bela... talvez bela porque é simples, como simples são todas as coisas belas.

    Parabéns e obrigado por partilhar conosco!

    Abraço.

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  9. Querida Uxa,seu blog chega como um presente.
    Obrigada
    Madú

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