O barbeiro sorriu ao ver a velha chegar na barbearia. Ela pediu que lhe cortassem o cabelo e lhe fizessem a barba. Parada na porta, tinha um ar tranqüilo; terminava de chupar uma manga direto da casca. Não estava mal vestida, pediu um gole de café. Ele mostrou a mesinha onde ficava a garrafa e apontou para o aviso “jogue os copinhos no reciclável”. A mulher tomou o café enquanto olhava seu perfil no espelho.
A barbearia ficava numa esquina movimentada. Logo entraram outros clientes. Ela não esperou o convite, jogou depressa o copinho no lugar indicado e sentou numa das cadeiras.
O barbeiro chamou sua mulher, magra como brisa. Explicou. A mulher disse: Tudo bem, vou pegar minha tesoura.
A velhota lambia dos beiços a saliva com gosto de café. Na margem do espelho, um cavalheiro olhava de soslaio. A cara queria parecer indiferente porém, não escondia um espanto, um certo nojo até.
O farol da esquina apagou, começou uma buzinação insuportável. A velha aguardava paciente como faquir. Apalpava o rosto, puxando os tantos fiozinhos de barba que apareciam em seu queixo. Compridos, lembravam nuvem de chuva.
Chegou a mulher do barbeiro cheirando a chiclete tuttifrutti. Molhou e cortou o cabelo da velhinha. Ajeitou-o com escova e secador. Depois, virou a cadeira de costas para o espelho, fez a mulher recostar a cabeça num apoio e começou a cortar os fios da barba com a tesoura fina. Tirava com pinça o fiapo sobrante. A velhinha festejava cada um que desaparecia. Sua alegria transbordava pelo corpo todo.
A barbearia ficava numa esquina movimentada. Logo entraram outros clientes. Ela não esperou o convite, jogou depressa o copinho no lugar indicado e sentou numa das cadeiras.
O barbeiro chamou sua mulher, magra como brisa. Explicou. A mulher disse: Tudo bem, vou pegar minha tesoura.
A velhota lambia dos beiços a saliva com gosto de café. Na margem do espelho, um cavalheiro olhava de soslaio. A cara queria parecer indiferente porém, não escondia um espanto, um certo nojo até.
O farol da esquina apagou, começou uma buzinação insuportável. A velha aguardava paciente como faquir. Apalpava o rosto, puxando os tantos fiozinhos de barba que apareciam em seu queixo. Compridos, lembravam nuvem de chuva.
Chegou a mulher do barbeiro cheirando a chiclete tuttifrutti. Molhou e cortou o cabelo da velhinha. Ajeitou-o com escova e secador. Depois, virou a cadeira de costas para o espelho, fez a mulher recostar a cabeça num apoio e começou a cortar os fios da barba com a tesoura fina. Tirava com pinça o fiapo sobrante. A velhinha festejava cada um que desaparecia. Sua alegria transbordava pelo corpo todo.
Final um: Ao final, sacou da bolsa umas notas amassadas, o escuro da boca sorriu, pagou e foi atravessar a rua. Um ônibus desvairado passou por cima dela. Pode parecer mentira mas não é.
Final dois: Ao final sacou da bolsa umas notas amassadas, o escuro da boca sorriu, pagou e foi atravessar a rua. Do outro lado, apoiado num guarda-chuva, um velhinho careca a aguardava. De braços dados, seguiram rua abaixo para desaparecerem dentro de uma loja. De alianças.
Final dois: Ao final sacou da bolsa umas notas amassadas, o escuro da boca sorriu, pagou e foi atravessar a rua. Do outro lado, apoiado num guarda-chuva, um velhinho careca a aguardava. De braços dados, seguiram rua abaixo para desaparecerem dentro de uma loja. De alianças.
Amor e Morte, ambos demandam preparação.
imagem da internet
o bom da coisa escrita com jeito de escolha é que afinal não precisamos escolher final nenhum. os dois estão lá, então ora eu vou preferir um ora vou dar continuidade na história com o outro.
ResponderExcluirmas o texto, ele sim tá lindo e não preciso nem preciso escolher - ler ou não ler.
Fiquei sim enojada da velhinha.
ResponderExcluirHá tudo isso de asco em ser velho? Ai! Meu Deus!
A boca tem que mexer tanto? E cheiro de comida? E aroma de café velho?
E barbearia de gente que não gosta de velhinha?
Ufa! Sofri muito. Não estou para sofrer.
Querida Uxa
ResponderExcluirmuito agradecida por você dividir
comigo sua criatividade(esse olhar de soslaio me lembrou minha querida mãe)
bjs
Madú
Valeu.
ResponderExcluirbjs e bfs
Gostei do velhinho esperando, não precisava as alianças, aquilo era história antiga, amor do tipo que acha graça do tempo e do que ele faz com toda a gente...
ResponderExcluirUm abraço, garota, estás cada vez melhor...
"Adorei a história! Fico com o segundo final.. no momento to precisada de finais felizes!..rs Bjs" Lu
ResponderExcluirTudo muito bom,ri muito.
ResponderExcluirBjs,saudade.Apareça quinta para um café.