sexta-feira, 9 de março de 2012

Brincando com o A


Era o quarto dia do mês de março, idos de quarenta e quatro, antiga vila de Guarará.
Isaura, Natália e Ismália catavam aves para jantar.
Foguearam a fornalha, caladas, pálidas, plácidas. 
Facas afiadas rasgaram as carcaças, separaram as patas; jogaram as aves na água ardente, arrancaram-lhes as penas. Lavaram as partes, tiraram-lhes as tripas, despejaram-nas nos baldes. 
Limparam a área, rumaram para o largo lago da rua d’África.
As águas espelhadas convidavam à camaradagem. 
Nas margens amplas, jogaram malha, pularam corda, desenharam artes. Tiraram as saias, nadaram no lago, entraram na mata, lavaram a alma. 
Há mágica debaixo das árvores copadas.
De volta à casa, à carne acrescentaram galhos aromáticos. A fornalha ao máximo, deitaram as aves aos tachos. O ácido, o áspero queimaram ao ápice.
Jantaram as aves com algas, alfaces, tomates, abacates. Tomaram garapa em cálices.
Imaginaram-se fadas, amadas, beijadas, anunciadas nos jornais nacionais.
Brincaram de palavras cruzadas, cantaram toadas, deitaram. 
Cansadas.


Um comentário:

  1. Fiquei dolorida com a morte das aves.
    Suporto mal, muito mal assassinato dos bichos.
    Frágeis do bico aos pés. Doces às escondidas. Inofensivas e explícitas.
    Pioro ainda mais se forem bichos aves.
    A sua história das meninas exagera de tão bem escrita.
    Elas acontecem súbitas a mim leitora.
    Uma história que não desanda. E é rápida.
    Um viver o dia que vai certeiro ao fim.

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