sexta-feira, 15 de junho de 2012

Planos, planos





Ângela e Raul estão casados há mais de 50 anos. Apaixonados, ficam de mãos dadas, trocam olhares, falam coisas como estava aqui olhando a Ângela e me lembrei daquela frase que se dizia no meu tempo, ela é uma uva! Ah, ela é uma uva até hoje!
-Benzãozinho, que que você disse?... Deixa pra lá, vou fazer seu doce para o almoço. 

Casaram-se numa linda igreja e fizeram uma festa memorável. As fotos do álbum de casamento, volta e meia, aparecem nas rodas de conversa, quando contam histórias do passado. As histórias da Ângela são de fazer a pessoa se escangalhar de rir ou chorar de tanta emoção. 

Ela pega a máquina de calcular para digitar o número de telefone da farmácia; abre a janela e fala alô?!   Ah, Angelinela, Nenela, que cabeça! Ao lado disto, se põe bonita para a feira, para o trabalho ou para o teatro, tem a casa arrumada no detalhe, nas flores frescas, na toalha da mesa. Não deixa faltar uma palavra de afeto para o vizinho de rua, para o dono da venda. 
Ela é do tipo que despeja amor e riso como chuva de uma sempre primavera. 
Ele é do tipo sossegado, aventureiro, arredio à cidade grande; por profissão conhecedor do mato, da natureza, dos bichos, já se curou de 9 maleitas, nada o tira do sério. 

Amando-se como se amam por muitos anos viveram a se dizer até a volta, se cuida, nos vemos no Natal... Trabalharam muito duro os dois para construir a vida, criar os filhos.

Para as Bodas de Ouro, sonharam anos seguidos. O sonho era assim: A capela da PUC de São Paulo, toda enfeitada, ela estaria vestida em lilás, muito elegante, e entraria na nave pelos braços do neto Rafael, um rapaz muito lindo. No altar, estaria o marido ladeado pelos três filhos, noras e os outros netos que, com certeza, já teriam. A Ave Maria de Gounod soaria quando ela e Rafael - que jamais teria morrido naquele horrível desastre de automóvel - entrassem pelo tapete da nave principal, olhando os convidados, os amigos, os parentes, sorrindo para todos. Na cerimônia, o marido a presentearia com uma aliança de brilhantes e, ao final, haveria uma festa.

A vida nem sempre segue nossos planos.
Nosso é apenas o presente.

No dia das bodas foram à missa na capela do convento das franciscanas, no bairro de São Francisco, em São Sebastião, cidade do litoral. 


Presentes apenas o casal e os três filhos. Nem uma nora, nem um neto. Sentaram-se juntos, do lado esquerdo da igreja. Do lado direito, uma família de gente simples rezava pelo filho que morrera atropelado. O padre veio lhes perguntar o motivo da presença ali. Explicaram que eram bodas de ouro. Foram efusivamente felicitados. Fez o mesmo com a família ao lado e ofereceu-lhes seu conforto. A missa foi singela. Aqueceram-lhes as palavras do padre. Com um sentimento de união, caminharam para a saída igreja. Do nada, entra pela nave, um garotinho desconhecido. Sorriso de orelha a orelha, ele abraça a noiva. Inunda-a de ternura. Como teria feito o neto querido. Bençãos do céu.


fotos  em PB do Studio Perlaky - 1954 - restauradas pelo Remo
fotos de S.  Sebastião 2012 - Remo


13 comentários:

  1. Que casal, que escritora desse casal!!! Me tornei mais amorosa, depois de ler, Uxa.
    Bj

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  2. linda história...
    adoro histórias de amor, mesmo as de final triste...ou conformado!
    bjs

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  3. "Parabéns Uxa lindo e tocante. Bj"
    Cecilia N. Palma

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  4. Adorei conhecê-los
    tudo de bom !
    bjs
    Madú

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  5. que lindos, né, Uxa, que bom ter eles como família, né?
    marisa

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  6. adorei!!!!!!!
    maria antonia

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  7. Parabéns amiga.
    Você é uma grande escritora!
    Fiquei mais uma vez emocionada com seu texto.
    Abraços
    Su

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  8. Querida Uxa,
    Boa tarde!
    A Nenela e o Raul existem mesmo, não é Uxa?
    Como é bom eles existirem!
    O amor deles tamanho me acalma. Faz-me a vida possível.
    A sua história está lindamente escrita. Combina com a beleza do casal.
    Obrigada por ela, obrigada por eles.
    Grande abraço,
    Cibele

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  9. SIMPLESMENTE maravilhoso,,,,, amei...
    Paola

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  10. Gostei muito,pega na alma.
    Bjs,
    Bel

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  11. Se as lagrimas formassem palavras eu as escreveria. Como não formam, me resta o silencio, um beijo e um abraço mesmo que "virtuais".
    Do seu filho do meio que te ama e adora seus textos, mesmo que na correria do dia-dia não os leia como deveria...

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