sexta-feira, 4 de maio de 2012

Foi raiva?

Dia seguinte, Dona Ester, atrás de ovos no galinheiro, vislumbra Lidinha lavando roupa no tanque. Observa-a de perfil a esfregar uns panos. Barriga grande. De novo?! Não é possível, esta moleca não tem nem 18 anos e já com 3 filhos para criar! Para quem criar? Ela ou a Rosa? A raiva vai subindo, a fúria contida vem como explosão: Sai daqui hoje mesmo, Lidinha. Pega suas tralhas, seus filhos e some da minha vida, desaparece! Chispa daqui, não vê o que faz com seus pais, com você mesma, sua louca, sem juízo, sem vergonha!

Rosa escuta os berros da patroa, sai porteira afora para buscar o neto na escola. Fazia isto todas as tardes, não podia se atrasar. Todo mundo sabia que o moleque era levado, se demorasse ele aprontava. Aquela era a hora do seu prazer. Voltaria conversando com o menino pela estrada, ele sempre falante contando mil histórias. Ela só pensava no momento em que o abraçaria e ele lhe daria aquele beijo lambuzado.

Já vinham voltando quando ela caiu. Do nada. O garoto ficou sozinho na estrada, sentado ao lado da avó, esperando que ela se levantasse. Anoiteceu. 


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Ninguém sabia da Rosa, nem do moleque. Lidinha pôs as mãos na cabeça que já estava fervendo com a bronca da dona Ester. Onde está meu filho? Eles não voltaram da escola? Ninguém tinha visto nada. Sabia de nada.

Antenor, a rotina revirada, estava atordoado. Fez o caminho da escola, a cabeça girando, os pensamentos todos se amontoando feito batata em saco. À frente, um vulto. O grito Vô!!! E a corrida desesperada, a vó caiu, não quer levantar, não quer falar comigo e vem um choro inundado como se tivessem aberto as comportas da represa do medo. 

Antenor carrega o garoto e o abraço contém no carinho os pequenos ombros que soluçam. Os lábios tocam sua cabeça suada. Ajoelha-se perto de Rosa. Sobe um grunhido do meio do peito, um grito contido. Desata, ele também, no choro mais profundo, o velho e o menino, agarrados, despejando um rio sobre o colo inerte e frio da mulher. 

imagem da internet estrela-nasa-morte

...desde que as filhas ficaram grávidas, muito meninas, a mulher começou a adoecer...

9 comentários:

  1. obra prima.
    fico sem a última frase ...desde que as filhas...
    bjs

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  2. Oi Uxa,
    dor no peito....Há Braços e bom final de semana.....

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  3. amei seus escritos ....mesmo ! beijos hilda

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  4. this one is a sad one
    how are things?
    hope all is well
    bjs
    ma

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  5. Ai! Que lindeza!

    Elisa

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  6. Querida Uxa,como sempre inspirada!
    obrigada,bjs
    Madú

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  7. "amei... mas de semana em semana é desesperador... quase te liguei pra vc ler tudo de uma vez pra mim....."
    Mari

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  8. Uxa, adorei a história,
    Bj,
    Paulo

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  9. Cara Uxa,
    Boa tarde!
    Hoje abri o blog.
    Ai me dói.
    É só. Dói.
    É mesmo isso.
    Bem escrito Uxa.
    Muito bem escrito.
    Abraços, parabéns, até mais,
    Cibele

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