Dia seguinte, Dona Ester, atrás de ovos no galinheiro, vislumbra Lidinha lavando roupa no tanque. Observa-a de perfil a esfregar uns panos. Barriga grande. De novo?! Não é possível, esta moleca não tem nem 18 anos e já com 3 filhos para criar! Para quem criar? Ela ou a Rosa? A raiva vai subindo, a fúria contida vem como explosão: Sai daqui hoje mesmo, Lidinha. Pega suas tralhas, seus filhos e some da minha vida, desaparece! Chispa daqui, não vê o que faz com seus pais, com você mesma, sua louca, sem juízo, sem vergonha!
Rosa escuta os berros da patroa, sai porteira afora para buscar o neto na escola. Fazia isto todas as tardes, não podia se atrasar. Todo mundo sabia que o moleque era levado, se demorasse ele aprontava. Aquela era a hora do seu prazer. Voltaria conversando com o menino pela estrada, ele sempre falante contando mil histórias. Ela só pensava no momento em que o abraçaria e ele lhe daria aquele beijo lambuzado.
Já vinham voltando quando ela caiu. Do nada. O garoto ficou sozinho na estrada, sentado ao lado da avó, esperando que ela se levantasse. Anoiteceu.
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Ninguém sabia da Rosa,
nem do moleque. Lidinha pôs as mãos na cabeça que já estava fervendo com a
bronca da dona Ester. Onde está meu filho? Eles não voltaram da escola? Ninguém tinha visto
nada. Sabia de nada.
Antenor, a rotina revirada, estava atordoado. Fez o caminho da escola, a
cabeça girando, os pensamentos todos se amontoando feito batata em saco. À frente, um
vulto. O grito Vô!!! E a corrida desesperada, a vó caiu, não quer levantar, não
quer falar comigo e vem um choro inundado como se tivessem aberto as comportas
da represa do medo.
Antenor carrega o garoto e o abraço contém no carinho os pequenos ombros que soluçam. Os lábios tocam sua cabeça suada. Ajoelha-se perto de Rosa. Sobe um grunhido do meio do peito, um grito contido. Desata, ele
também, no choro mais profundo, o velho e o menino, agarrados, despejando um rio
sobre o colo inerte e frio da mulher.
imagem da internet estrela-nasa-morte
...desde que as filhas ficaram grávidas, muito meninas, a mulher começou a adoecer...
obra prima.
ResponderExcluirfico sem a última frase ...desde que as filhas...
bjs
Oi Uxa,
ResponderExcluirdor no peito....Há Braços e bom final de semana.....
amei seus escritos ....mesmo ! beijos hilda
ResponderExcluirthis one is a sad one
ResponderExcluirhow are things?
hope all is well
bjs
ma
Ai! Que lindeza!
ResponderExcluirElisa
Querida Uxa,como sempre inspirada!
ResponderExcluirobrigada,bjs
Madú
"amei... mas de semana em semana é desesperador... quase te liguei pra vc ler tudo de uma vez pra mim....."
ResponderExcluirMari
Uxa, adorei a história,
ResponderExcluirBj,
Paulo
Cara Uxa,
ResponderExcluirBoa tarde!
Hoje abri o blog.
Ai me dói.
É só. Dói.
É mesmo isso.
Bem escrito Uxa.
Muito bem escrito.
Abraços, parabéns, até mais,
Cibele